Delírio...

Apressava o passo, sentindo que algo me seguia. Sentia que era algo, pois o ruído dos passos, era diferente de passos humanos, que têm um compasso conhecido. Na verdade, era som de passos, como se multiplos fossem os pés. Ou então, num delírio supunha algo, poderia ser mais de uma pessoa, ora!

Fazia frio, mas eu suava, e o medo me impedia de olhar para trás; seguia naquela viela, úmida e mal iluminada. Lembrava que tinha recusado carona e me arrependia por isso. Passava pela minha mente, em flashes, todo medo sentido, aquele que quando criança me gelava, ao olhar em baixo da cama, certa de que encontraria lá um monstro.

Só via as fachadas, desfocadas, das casas de pedra, e nenhuma alma por ali vagava. Um fio pela espinha me tomou e finalmente não pude resistir: era fraca, sentia a proximidade quente “daquilo”.
Um vento forte e quente, estava finda a caçada, agora eu era presa fácil, nas mãos do caçador.

Assim, senti que a força esgotara, me entreguei. Sem me virar, ainda com medo, senti tentáculos a me envolver, despenteando meus cabelos e rasgando minhas roupas; meu corpo em chamas experimenta o que lera nos livros, tempos atrás. Braços que eram tentáculos, boca que eram várias bocas a me provocar e despertar os instintos, aqueles imaginados, mas dificilmente experimentados.
Olhos fechados, parede de pedra, sentia desejo animal e a aspereza das pedras, ao mesmo tempo que diluiam em mim a mulher adormecida. Foram tantas as sensações, que não me atrevi a abrir os olhos, vivi o desconhecido, aproveitei-me dele e, revertendo, a caça já não era mais eu.

De repente, ouvi um barulho, uma moeda caindo, tilintando no paralelepípedo, abri os olhos e estranhei: era eu, vestida e inerte,com um porta-níquel nas mãos...
Fátima N.