segunda-feira, 12 de março de 2007

Café

Adoro cheiro de café, aquele quando está sendo passado, que invade a casa toda, deixando tudo com aquele aspecto de aconchego, de lar...
Esse cheiro me remete a muitos acontecimentos, e sempre que o sinto é como se revivesse.
Lembro de como o cheiro invadia nossa casa, quando minha mãe logo pela manhã nos chamava para írmos à escola, e que vinha misturado a uma boa fatia de pão com manteiga, aquela feita com as natas do leite. Delícia de tempo.
Pela tardinha, quando chovia e o cheiro da terra molhada adentrava em casa e se misturava ao do café, era o sinal: teríamos bolinho de chuva.
Lembro de como meu pai, adorando café, chegava em casa e eu já corria para fazer um. Tempos de problemas mínimos.
Por que será que os problemas ficam tão pequenos com o passar do tempo?
Tudo é definitivo se vivido no presente, mas basta o tempo dar o ar da graça para olharmos e pensarmos: nem era tão grande assim.
Coisas da infância têm peso na vida adentro. Além dos cheiros e lembranças, trazemos as atitudes de lá – é nela que observamos como adultos fazem-, para copiar mais tarde. Não lembro de discursos, nem de broncas, mas gestos e atitudes... Ahhh! Essas lembro em detalhes.
As gentilezas que trazemos, a nossa compaixão e a nossa solidariedade são filtradas em atos que, um a um, formam nosso ser, assim como a água passando pelo pó se transforma em café.
Lembro que o cheiro de café, que pode ser corriqueiro, vem acompanhado de amor, que tanto tentamos, filosoficamente, decifrar.
Pode parecer loucura minha – e às vezes até é – mas há todo um ritual de repensar quando saborearmos um bom café.
Quando tenho às mãos uma xícara de café, fico assim, divagando,
me perco em lembranças e nos sabores que elas têm.
Escrevendo esse pequeno texto nem me dei conta: meu café esfria.
Ah! doce delícia de perder-me em letras e lembranças, mas o café – este – terei que fazer outro.

Fátima N.

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